sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O bandolim que vale por uma orquestra

"A pergunta da série vai de encontro à música que eu faço. Há muito tempo busco esse caminho. Isso é jazz ou não é? Respondendo: isso não é jazz, é música brasileira", assim o bandolinista Hamilton de Holanda, a grande estrela do festival, abriu seu concerto solo, tocando a autoral "Negro samba". Em seguida, ouvimos, extasiados, "Vou vivendo", de Pixinguinha, "7 anéis", de Egberto Gismonti, e "O que será?", de Chico Buarque. Sem nenhuma combinação prévia, os filhos do bandolinista se aboletaram no palco para assistir ao pai bem de perto.

Gosto muito desse Hamilton mais tranquilo, interpretando sozinho composições que o acompanham a vida inteira. Ele faz com que velhas canções soem inéditas na versão instrumental com o seu jeito de ler as músicas. Dos afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes, ele escolheu "Canto de Iemanjá". Emendou com "Pro Anjos", de própria autoria, inspirada na obra do uruguaio Agustín Barrios e dedicada aos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.

Sereno e bem humorado, ele arrancou boas risadas da plateia ao contar que os bandolinistas passam metade do tempo afinando o instrumento e a outra metade, tocando desafinado (risos). Interpretou o clássico "Beatriz", de Chico Buarque e Edu Lobo, com todo o sentimento do mundo. Quem fechou os olhos ouviu uma pequena orquestra de cordas no palco. Esse show comemora os dez anos do bandolim de dez cordas inventado pelo Hamilton.

Inspirado em Astor Piazzolla, bandoneonista e compositor argentino, Hamilton escreveu "Estações", um desses temas que trazem um certo grau de complexidade mas, ao mesmo tempo, têm a virtude de chegar simples nos ouvidos. A valsa "Flor da vida", que ele fez para a mulher, foi a próxima música a deixar o público boquiaberto.

Para fechar, mais um afro-samba de Baden e Vinicius, "Canto de Ossanha", antes de um, dois, três bis. Meus amigos que foram prestigiar o show agradeceram pela noite, de fato, gloriosa. Até a próxima edição, Hamilton de Holanda. Quero você e o pianista André Mehmari no programa do segundo Isso é Jazz?

Por Monica Ramalho
Fotos de Paula Monte

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